Resenha: O palácio de inverno - John Boyne

Editora: Companhia das Letras

Autor: JOHN BOYNE

ISBN: 9788535917109

Ano: 2010

Número de páginas: 456

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Sinopse: Seus feitos começaram cedo: aos dezesseis anos, em ação impulsiva e atabalhoada, o rapaz impediu um atentado contra a vida de ninguém menos que o grão-duque Nicolau Nicolaievitch, irmão do czar Nicolau II, que, agradecido, nomeou Geórgui o guarda-costas oficial de seu filho Alexei, destinado a ser o próximo czar. Uma reviravolta impressionante, que o levou da taiga russa para o fausto dos palácios moscovitas, cenário que, apesar da amplidão e luxo de seus imensos corredores, iria se revelar bem mais inóspito que os frios grotões de sua vida anterior. 

 " (...) mas alguns momentos daqueles anos, daqueles primeiros anos, permanecem e ressoam em minha memória. E se tardam como sombras nos corredores escuros da minha mente que vai envelhecendo, mostram-se ainda mais vívidos e notáveis por jamais poder ser esquecidos. Mesmo que eu logo o seja." Pág. 10

Ao ler as primeiras páginas do livro "O palácio de inverno" disponibilizadas no site da Companhia das Letras já é possível perceber a serenidade do seu protagonista e narrador Geórgui, um homem muito honrado e íntegro, cujos valores sólidos e desejos muito simples dão à narrativa uma beleza ímpar. No entanto, ao contrário do que algumas pessoas podem supor, este não é um livro com relatos de combates e ambiente de guerra, e sim uma história sobre a vida fascinante de um homem comum com quem coisas incomuns aconteceram.

Geórgui já é um senhor idoso e, nos últimos dias de sua amada esposa - ela, que norteou toda sua existência - se coloca num retrospecto da própria vida. Como grande parte das pessoas que viveram no início do séc. XX na Europa, Geórgui passou por situações de intenso sofrimento. Sem apelar para sensacionalismos ou clichês sensibilizantes, ele conta sua triste trajetória desde a infância em uma pobre cidade da Rússia, com um pai depreciador e uma fome cotidiana, passando pelo seu trabalho como guarda do filho do czar Nicolau II, quando conheceu o seu grande amor, até a sua vida de adulto na França e Inglaterra, os desafios do seu casamento e uma série de considerações muito pertinentes sobre a terceira idade.

"Talvez ele ache que me perdi ou que não consigo dormir, ou que sujei a cama. É ridículo, claro. Estou inteiramente vestido, só sou velho." Pág. 444

A história alicerça-se nos momentos mais importantes da vida de Geórgui, aqueles que constituíram seu aprendizado e fundamentaram seu caráter. Sua fala, apesar de carregada por grande culpa pelos erros que cometeu, é a de quem se vê inesperadamente satisfeito com o rumo que sua vida tomou, e de suas reflexões pontuadas ao longo da narrativa é possível extrairmos grande sabedoria deste personagem. Por ser contada fora de ordem cronológica, a narrativa conta com aqueles adoráveis detalhes deixados em dado momento e retomados posteriormente, como se o autor desejasse presentear com sutilizas deliciosas os leitores mais atentos.

Em alguns momentos do romance histórico, o autor se apóia em fatos reais e cria personagens a partir de figuras políticas ou famosas que existiram de verdade, como a família Romanov do último czar da Rússia, o místico e controverso Rasputin e até Churchill, o primeiro-ministro da Inglaterra durante a 2ª guerra. Nos capítulos sobre sua experiência como guarda do filho do czar, é possível entender melhor as relações de poder da família do imperador, e esboçar uma ideia sobre como foi a vida da família imperial russa. Além disso, pela época e países em que o livro se passa, podemos imaginar com mais clareza como deve ter sido viver em período de guerra, se sentindo em perigo o tempo todo e sofrendo as dificuldades causadas na vida cotidiana.

Se trata de uma leitura imensamente prazerosa, que pode ser absorvida mesmo por quem não tem conhecimentos profundos sobre História e Política mundial - embora imagino que venha a ser ainda mais interessante para quem domina ou tem interesse nesses assuntos. Indicado para todos que têm curiosidade sobre culturas de outras épocas e países, tanto quanto para aqueles que gostam de refletir sobre a vida em si, e, principalmente, "O palácio de inverno" é perfeito para todos que apreciam uma boa história.

Nota: 5/5

Capa: 5/5 

Leria de novo? Não sei dizer, mas certamente gostaria de conhecer os 

outros livros do autor ("O menino do pijama listrado", por exemplo)

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