Resenha e #promo: Patrimônio - Philip Roth

Editora: Companhia das Letras

Autor: Philip Roth

ISBN: 9788535920635

Ano: 2012

Páginas: 192

Skoob

Sinopse: De que maneira um homem vigoroso, que passou décadas acreditando no trabalho duro como o método ideal de justificar a própria existência, pode lidar com a certeza aterradora de que vive "totalmente isolado dentro de um corpo que se tornara um terrível cercado do qual não podia escapar"? Essa é uma das questões levantadas por Patrimônio, que ganha nova tradução para o português.

Neste livro de 1991, Roth revisita os altos e baixos da relação com o pai. Em uma narrativa que nunca recorre a um estilo sentimental ou autoindulgente, o autor americano, que começou a carreira no estilo corrosivo de O complexo de Portnoy, adota um tom mais sóbrio.

Essas memórias abrem caminho para as obras de ficção lançada por Roth nos anos seguintes, sobretudo O teatro de Sabbath, e a tetralogia composta por Homem comum, Indignação, A humilhação e Nêmesis. Poucos autores alcançaram, nas últimas décadas, uma produção tardia tão poderosa.

" (...) tão logo a gente supera o nojo, ignora a náusea e descarta aquelas fobias fortalecidas como tabus, há muita vida para ser acalentada." Pág. 140

É surpreendente a diferença que faz ler bons autores, aqueles com um texto tão bem estruturado e vocabulário tão rico que a sua elegância até contamina o que nós escrevemos. É o caso de "Patrimônio", um livro maduro e adulto sobre o pesado tema da perda. Nele, Philip Roth nos conta sobre os últimos meses de vida de seu pai, e sem cair em clichês nos passa toda a dor dessa experiência. Por se tratar de fatos reais, leitores que já conhecem o autor ficarão ainda mais contentes, uma vez que o livro causa uma aproximação e nos transporta ao cotidiano de Philip.

Se você precisa de muita ação para apreciar uma leitura, esta talvez não seja a melhor opção. Afinal, o ritmo de "Patrimônio" é mais tranquilo e reflexivo, embora por motivos óbvios o final do livro traga uma carga emocional mais tensa. O que Roth faz nesse livro não é falar de forma abstrata e sensacionalista sobre a morte, e sim nos relatar diversos acontecimentos da sua vida que envolvem seu pai e mostram a grandeza de seu caráter modesto, de sua rudeza estoica e do lindo laço paternal que há entre eles. Assim, ao invés de tentar nos explicar a sua dor, o autor nos apresenta a sua vivência com o pai nos últimos meses de vida, nos cativando de tal forma que ao fim do livro não entendemos a sua tristeza, mas a sentimos verdadeiramente pois é como se um conhecido nosso tivesse partido.

Com personagens reais - que de fato o são, esta leitura é de grande serenidade e sabedoria, embora sua faceta moral seja suave, recolhida da história somente por quem tiver esse interesse interpretativo de aprendizagem. No mais, é um livro bonito sobre família e sobre dar valor àqueles que amamos enquanto o temos em nossa vida. A enredo também traz a tona nossa própria fragilidade, porque ao narrar a degradação física, psicológica e da autoestima de Herman Roth, nos recorda do processo pelo qual um dia também teremos de passar. No entanto, essa possibilidade de associação não faz o livro macabro e sim nos dá uma maior humildade perante a nossa inevitável finitude, um exercício importantíssimo para avaliarmos as nossas escolhas e posturas diante da vida. 

Nota: 5/5

Capa: 3/5 

Leria de novo? Não, mas quero conhecer outros trabalhos do autor.

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