sexta-feira, 29 de junho de 2012

Resenha: Precisamos Falar Sobre o Kevin - Lionel Shriver

Obs: prefiro a capa original a esta do filme!

Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580571509
Ano: 2007
Páginas: 464

Sinopse: Para falar de Kevin Khatchadourian, 16 anos - o autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio dos subúrbios de Nova York -, Lionel Shriver não apresenta apenas mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos: arquiteta um romance epistolar em que Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao marido ausente. Nelas, ao procurar porquês, constrói uma reflexão sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.

Precisamos Falar Sobre Kevin discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há de errado com culturas e sociedades contemporâneas que produzem assassinos mirins em série e pitboys. Um thriller psicanalítico no qual não se indaga quem matou, mas o que morreu. Enquanto tenta encontrar respostas para o tradicional "onde foi que eu errei?" a narradora desnuda, assombrada, uma outra interdição atávica: é possível odiarmos nossos filhos?

Esta não é uma história feliz, é uma história bem feita. Não espere terminar a leitura com leveza, e sim com um grande respeito pelo talento da autora e por Eva, a protagonista. Com um texto carregado de culpa e dor, ela nos conta, por meio de cartas endereçadas ao seu marido, a história da família deles e de como sua vida foi destruída pelo filho mais velho, Kevin. Mas ela não está atrás de desculpas ou de amenizar o que aconteceu. Com uma grande dose de auto-punição, esta mulher aceita todas as desgraças que acontecem em sua vida depois dos atos do filho psicopata, e vai de encontro ao próprio sofrimento como se essa sua coragem pudesse trazer uma absolvição. 

A história pode ser interpretada de duas formas diferentes, e durante toda a leitura você mudará de opinião diversas vezes. A primeira opção é que Kevin seja um psicopata de berço, de forma que seria natural todas as atrocidades que cometeu e o consequente desamor de sua mãe - e, neste caso, ela estaria se punindo por uma tola necessidade de autoflagelamento, já que nada do ocorrido seria sua culpa. Outra opção é que apesar da apatia de Kevin, o egoísmo da mãe e renúncia em amá-lo tenha condicionado seus crimes, no que ela talvez estaria nos contando a história de forma um pouco distorcida, para aliviar sua culpa. A impressão que fica é a de que as múltiplas opções de interpretação são propositais, afinal esta história deve ser vivenciada sobre a ótica desta mãe perdida,  e a confusão causada no leitor não pode ser um mero acaso.

A enredo não é claro ou linear, mas é compreendido pelo leitor conforme é contado pela narradora-protagonista, que vai formulando seu pensamento em uma conversa feita por meio de cartas endereçadas ao seu (ex?) marido. As cartas se alternam entre relatos do passado da família, com episódios que demonstram claramente a tendência sociopata de Kevin, e do presente terrível de Eva, que é um resultado das ações do filho. Eva já passou do seu limite e não tem mais pudor de ser franca consigo mesma, com suas fraquezas e seus erros. De certa forma, o texto de Lionel Shriver remete a Clarice Lispector com seu poder reflexivo e existencialista, embora muito mais cru e carregado de uma honestidade desconcertante, que atrai nossa atenção como uma cena terrível na rua da qual não conseguimos desviar o olhar, sádicos curiosos que somos.

Outro ponto que impressiona é a construção dos personagens, que são multifacetados e muito possíveis. Eva é uma mulher culta, viajada, bem sucedida e independente. Kevin é um garoto fechado, inacessível à sua família e ao leitor, uma 
incógnita. Seu pai é um clichê norte-americano, com sua fé em seu país e na normalidade - inclusive na do seu filho. Há ainda uma quarta personagem, a mais encantadora, da qual prefiro não falar muito para evitar spoilers, mas que é peça chave e traz grande sensibilidade à leitura. 

O livro pode trazer dificuldade para aqueles acostumados com leituras mais acessíveis, tanto por fazer uso de uma linguagem mais sofisticada quanto pela complexidade emocional da narrativa. Além disso, a introdução feita pela protagonista trata de Nova York como se já a conhecêssemos bem, algo que pode causar certa irritação. No entanto, é uma obra contemporânea sem comparação e estou certa de que você não se arrependerá de ser perseverante e prosseguir com a leitura. 
Indicado para quem aprecia histórias de psicopatas, narrativas introspectivas, analíticas e cheias de reflexões profundas, "Precisamos Falar Sobre Kevin" foi um dos melhores livros de 2012, até agora. Inteligente e surpreendente, ele vai te deixar perplexo com a qualidade de escrita de Lionel e completamente cativado pela autora. 

Nota: 5/5
Capa: 5/5
Leria de novo? Talvez. 
Além disso, este livro me mostrou que Lionel é arrasadoramente apaixonante e eu não vejo a hora de engolir qualquer rabisco que ela decidir colocar no papel!

---------------------------------------------------------------
Participe das promoções que estão rolando!
  
E lembrando: p/participar da #promo mensal Comentário Premiado você só precisa:
 Seguir o blog no GFC, comentar e assinar seus comentários c/e-mail ou twitter :)

18 comentários:

  1. Depois de assistir o filme do livro quero ler
    e fiquei chocada com uma cena em que kevin mata os alunos no ginásio a flechadas sem nem se importar
    foi muito estranho
    eu queria fazer mil perguntas pra ele durante o filme
    O.O


    @Mayh_Fernandes

    ResponderExcluir
  2. Nossa parece ser muito bom... Não li ainda esse livro.

    Beijoos

    Meus livros, meu mundo.

    ResponderExcluir
  3. o livro parece ser bom, mas acho que não faz meu estilo de leitura. Pra mim, a capa da primeira edição é mais legal que essa, embora o que interessa é o conteúdo..
    parabéns pelo blog :D

    @Baciil / matheus_bmoser@hotmail.com

    ResponderExcluir
  4. OLá Mariana,

    Não gosto de livro com capas de filmes, mas a capa original é horrível e só iria ler esse livro com essa capa, já li ótimos resenhas dele e a sua não fica atrás, estou muito curioso...abçs.


    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Estou louca para ler este livro!O filme é excelente e conseguiu em cheio atiçar a minha curiosidade para ler o livro.
    Fabianne
    afabianne@gmail.com/@fabsa88

    ResponderExcluir
  6. Sabe, Mari, eu sofro um conflito quando se trata desse livro. Por um lado, eu quero muito ler, porque todo mundo diz que é super bem escrito e que a autora realmente arrasou. Por outro, eu morro de medo de ler. Acho que deve ser tão, mas tãããão pesado, que nem sei se quero passar por isso. Acho que vou esperar eu estar em um momento muito feliz da minha vida pra tentar! rs...

    Beijo!

    Ju
    @PalcoseLivros

    ResponderExcluir
  7. Depois dessa resenha ele esta na minha lista!
    Parecer ser muuuuito bom! Principalmente por tocar um lado tão emocional dos personagens
    Saudades de você lá no blog também *-*

    Pausa Para um Café - Resenha de Livros

    ResponderExcluir
  8. Amei sua resenha.
    O livro parece ser ótimo.
    Fiquei com muita vontade de lê-lo, deve ser interessante ver pela visão da mãe do psicopata.
    Fiquei bem interessada.

    @debinha_araujo

    ResponderExcluir
  9. A primeira vez que ouvi algo a respeito de "Precisamos falar sobre Kevin" foi quando alguns blogs começaram a divulgar trailers do filme.

    Como sou uma eterna admiradora da atriz (eterna feiticeira de Nárnia), fui logo pesquisar mais sobre ele e quando eu vi o ator que dá vida ao personagem em questão a minha reação foi: "Mas gente, precisamos MESMO falar sobre Kevin! Que moço bonito!", haha!

    Tietismos a parte, esse livro aborda uma temática que eu (confesso) até gosto. Não me entenda(m) mal, sei que o que essa mãe (e tantas outras) passam/passaram é uma senhora barra, mas são temas assim que me fazem (ou melhor, me ajudam) a entender a mente humana. Essas histórias mais fortes tendem a mexer como nossos sentimentos e de certa forma, a reconsiderá-los e pra mim, quando um autor consegue isso, merece que eu tire meu chapéu.

    Mari sua resenha ficou ÓTIMA!
    Eu adorei cada palavra dita aqui e a forma como escreve se torna cada vez melhor e mais admirável *.*
    Vou ver se me dou a oportunidade de ler este livro. Já não é de agora meu interesse nele.

    Bjos!

    Dani / @daride

    ResponderExcluir
  10. Nossa, que resenha perfeita...
    Me apaixonei completamente por esse livro mesmo sem ter, ao menos, lido uma página. Vou com toda certeza procurá-lo pra comprar...

    arturlima2005@hotmail.com

    ResponderExcluir
  11. Mari, adoro as tuas resenhas!! Já tinha ouvido falar do livro, mas agora fiquei mega afim de ler! Gosto de histórias em que a opinião do leitor vai mudando, e não me importo que seja um livro mais denso. Uma amiga minha leu O Mundo Pós Aniversário, do mesmo autor, e amou demais! São dois livros que quero ler!

    ca_sirio@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  12. Eu ganhei o livro de presente, estou muito animada pra começar a lê-lo. Já quero ler a muito tempo, e depois verei o filme!

    abraços,
    Luciana
    http://folhasdesonhos.blogspot.com

    ResponderExcluir
  13. Sou louca para ler o livro. A ideia me interessa. E quero ler antes de ver o filme.

    Carissa
    http://artearoundtheworld.blogspot.com

    ResponderExcluir
  14. Oi Mari, saudade de comentar aqui no blog!
    Eu gostei desse livro, mas achei pesado demais, sinistro demais, duro demais...assustadoramente impactante.
    Não faz meu tipo de leitura, mas gostei de mudar um pouco o estilo literário e fico feliz em saber do seu entusiasmo também.
    Beijos

    lin_leao@hotmail.com

    ResponderExcluir
  15. Já está na lista dos livros a serem lidos esse ano!
    Bjãoo

    aninhalimaall@hotmail.com

    ResponderExcluir
  16. No momento acho que não leria este livro, pois pelo que entendi a leitura é bem pesada, mas admiro a autora e sei que o livro é um sucesso! :D

    laura_zardo@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  17. É impressionante a angústia causada pelo filme que acabei de ver. Muito interessante ver todas as fazes de desenvolvimento da personalidade a necessidade de satisfação sem medida quando bebê demostrada aos berros, a fase sádico anal em que sentia satisfação com o sofrimento da mãe a introspecção, culminando com a estruturação de um psicopata incapaz de demonstrar qualquer remorso, esbanjando uma individualidade totalmente narcísica culminando com um trágico final, também é impressionante a presença sempre atordoada demonstrada pelo olhar (perdido?) da mãe.

    ResponderExcluir